Depois de muito tempo retorno. Agora sem
promessas. Devo a meus leitores um mês de postagens... Perdão, mas acho que não
conseguirei pagar. Hoje, quatro meses depois, retorno a postar no Cem Vezes
Mais.
Desta vez falo da dor. De todos os sentimentos,
ela é o menos humano. A dor não é normal, mas inevitável. Chegamos, na vida, ao
ponto de perceber que tudo dói tudo causa em nós uma gota de dor. Dói quando
nós mesmos nos ferimos, dói quando as circunstâncias nos ferem, dói mais ainda
quando nos ferem e dói muito mais quando ferem alguém que se ama.
A dor é fruto do pecado. Poderia para por aqui,
afinal pecado é morte, morte é fim. Mas há no fundo algo de comum na dor. Até
mesmo na dor existe esperança. Toda e qualquer dor passa, toda dor tem uma
cura... Mas onde está essa cura? É algum remédio? Alguma fórmula? Alguém?
Talvez um pouco de tudo isso. Procurar a cura para tantas dores é o que o ser
humano tem feito desde o pecado, e onde se encontra um alívio, aí se estaciona,
um conforto onde aparentemente sanar a dor ardente. Vão. A dor que se alivia é
como o descanso para um guerreiro: para a batalha e descansa, mas volta mais
forte, revigorado, pronto a destruir e vingar-se.
Há um modo de encarar da dor? Sim, sentindo-a.
Esse é o único modo de encará-la. Fugas são ilusões, remédios, agravantes. Deve
haver apenas um caminho, o que chamo Caminho da Dor. É duro, para mim, falar
deste caminho, pois ainda não o vivo plenamente, e nem sei se o consigo. Esse é
o caminho próprio de Cristo. Não exatamente o do Calvário, mas o olhar para a
humanidade que se mata, ao olhar para os incrédulos, para os que vendem a
baixíssimo preço a própria alma... Essa é a dor de Cristo, a dor de amar.
Amar é doar, é doer. Eis o Caminho da Dor: o
Amor. Não que amar é sentir dor, mas sentir dor é amar. Se associo a dor ao
amor, a dor sara, a dor não dói. Esse é o maior dos desafios: encarar a dor
como prova de amor. Como se diz: “o ouro é provado no fogo”. De fato, para as
melhores jóias o ouro deve sofrer o fogo, ser polido, perder um pouco de si. Assim
também nossa alma: provada na dor para alcançar o valor de um tesouro.
Outro dia vi as lágrimas de um grande amigo e ele
me perguntava: “como vou olhar para quem me fez sentir tanta dor?” Essa
indagação era também minha e tronou-se minha reflexão por dias. Quando num
desses dias, em lágrimas já enxutas, olhei para a Santa Cruz, especialmente
para o olhar de Jesus. Senti que Jesus me fazia a mesma pergunta que meu amigo:
“como olhar para quem me fez sentir tanta dor?” Mas o próprio Jesus me
respondia: “Com amor, meu filho! Eu olho para os que me matam com amor. Estou aqui,
na cruz, não por sua causa, mas porque te amo, e porque te amo, pago esse
preço: minha própria vida por ti.”
E quando eu causo minha dor? Meus irmãos, nós
buscamos o que está ao nosso lado, aliás, dentro de nós: Jesus. Ele é a cura
para nossas dores... “Vinde a mim todos os que estão cansados e oprimidos, sob
o peso de vossos fardos, eu vos aliviarei” (cf. Mt 11,28). Por aqui paro, pois
para nós o Amor é a Vida e a Vida, o princípio e o fim.
Paz e Bem
Luciano Tiago Beserra da Silva