quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Fidelidade


                Falta pouco para terminar o ano e eu não terminei muitas coisas, alias nem comecei muitas coisas. Hoje foi mais um dia comum, exceto pelo fato do meu reencontro com a argila. Por um conceito inovador e chocante nosso presépio esse ano será o mais incomum possível. Quer vê-lo? Ide a Catedral na noite de Natal.
                Pela manha conversei com meu padre. Foi uma conversa boa que me colocou boas expectativas para o próximo ano, tanto para mim quanto para a paróquia. Coloquei-me hoje uma questão... Devo lembrar, e creio que meus amigos leitores já perceberam que meu diário é de apenas uma palavra por dia: volta, preso, ócio e fidelidade, que é justamente o que vivi com mais intensidade: hoje, fidelidade.
                A fidelidade é algo difícil, muito difícil de atingir. Não é todo mundo que valoriza... Estou sendo chato e meu texto monótono... É típico da fidelidade: a mesma coisa sempre. Ser fiel a uma pessoa, a um estilo, a um dogma, a um grupo é como manter as mesmas relações intactas sem perspectivas e sem decepções, por isso é tão difícil. Daí me pergunto: ser fiel é manter padrões? Consulta ao Aurélio... Fiel: digno de fé; que não falha; com o qual se pode contar. Então em parte estava certo, ser fiel é manter-se n’algo, todavia não como um padrão, mas como um valor.
                Vocês que lêem devem estar achando estranho os meus equívocos aparecerem aqui de uma forma tão clara, mas se não fosse assim não seria fiel. Quero mostrar o processo da construção do meu texto como o vivo: estou ouvindo The Gossip (indico) e na TV passa Fina Estampa, alias, acaba de começar A Grande Família.
                Vivo hoje minha fidelidade com as pessoas que cativei, pois sou responsável pelo que cativei. Mas ser fiel dói. O pior de ser fiel é a falta de reciprocidade e isso é algo que ainda não aprendi: não esperar algo em troca.
                Senti agora a pútrida vontade de faltar-vos com a fidelidade e deixar o texto por aqui, sem fim, sem eira nem beira... Mas me dói o coração deixar algo pela metade. Estou estragado com a decepção e a solidão que experimentei essa noite. Fiz um convite a um amigo para sair comigo, mas ele recusou e ainda disse “convida o fulano, ou o ciclano... que tal o beltrano”. A saber, convidei o preso para ir comigo. Depois de ouvir isso percebi que o preso tratou a si como mais uma opção para me fazer companhia e eu me senti um chato que procura alguém que possa me aturar.
                Horas penso em desistir de manter certas amizades, de largar de mão, como dizem. A fraqueza alheia ao passo que me agonia me fortalece a não desistir. Se não o amasse tanto... Caro leitor, sinto eu mesmo sua indignação com um texto tão ruim, mas de árvore ruim não pode sair fruto bom, portanto tenha uma boa noite, amanha te digo melhor, isso se meu espírito estiver melhor que está hoje... Sai sozinho, comi besteiras, voltei para casa e dormi, e dormi em todos os sentidos.
Diário de férias #5
Luciano Tiago Beserra da Silva
Castanhal, 22 de dezembro de 2011
foto: Hayran, eu e Júlio. Eles são os meus melhores amigos, pessoas por quem estou seguro e comquem não falharei e sempre estarei disponivel.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Ócio


Dormir faz muito bem. Hoje eu dormi. Dormi muito. Experimentei ficar deitado assistindo Sakura CardCaptors, depois de terminar As Crônicas de Nárnia, mas o sono foi mais forte... Dormi das quatro às seis e quarenta. Enquanto o resto do dia foi o mais comum possível... Um sentimento de ócio... Até pecado pronunciar. Vi bailarinas, dançarinas, coisas lindas, tão leves que contagiam, plumas no ar girando, girando, deixam tonto e fazem dormir.
                Fora essa sonolência toda, escutei hoje, e escuto agora, Siete Camiños, Rosa de Saron. É bem diferente e arrepiante ouvi-los cantar noutras línguas. Fiquei feliz e reflexivo por ouvir de novo músicas tão fortes, tanto no ritmo quanto nas letras. Ouço com outros ouvidos, me parecem mais profundos, mais agudos no que diz respeito ou toque no sentimento que desconheço, mesmo que o sinta.
São horas em que eu queria um abraço, de não sei quem, não sei como. Ontem convidei o Hayran para ir ao cinema comigo e ele deixou escapulir um “por que você não convida a...” Depois que ela me deixou uma melancolia me tomou intensamente, fica sempre faltando uma presença. Nesse exato momento, enquanto escrevo procuro alguém para conversar e[...] de repente, é sério, de repente, enquanto escrevia a última frase antes dos colchetes, aparece aqui em casa um amigo com um cartão de Natal e um abraço. Agora, sinceramente, senti vontade de mudar o título do post, mas não posso. Essa visita inesperada me reavivou, bem como as músicas do Rosa, que alias muita coincidentemente é a banda favorita desse amigo que me visitara.
Meu Deus é perfeito. Não consigo entender essas loucas coincidências da vida, principalmente num momento tão ocioso das minhas férias, o Natal à porta, do jeito que estou na situação que estou... Vou fazer o que eu mesmo disse e aprendi da Virgem: vou guardar tudo no coração. Eu sempre terei mais uma chance, sempre poderei vencer a meus próprios defeitos, apesar de ainda me ver como um brinquedo torto.
O amigo que veio me visitar entra ano que vem no seminário. Rezo por ele. E eu, onde fico nesta história? Vejo cada capitulo da vida passar e perguntas permanecem, permanecem me atormentando. Minha liberdade não será ferida, mas quero que seja feio em mim o que for melhor, a vontade daquele que é.
Diário de férias #4
Luciano Tiago Beserra da Silva
Castanhal, 21 de dezembro de 2011

Prazer


                Desfalquei um dia do diário, mas a segunda feira é sempre muito comum, não há muito que dizer. Mesmo eu tendo ido a Escola da Palavra pela noite e ter ficado maravilhado com as coisas que ouvi e que vi.
                Nesta terça, meu descontentamento foi compensado pela música. Nos últimos anos não encontrei melhor companhia para qualquer hora, senão a do meu Senhor. Se a música tomasse forma física, humana e feminina eu casaria com ela. Sei bem que seria difícil casar com uma dama com tantos pretendentes, mas eu a amo e tenho muito respeito. Seja ela como for eu gosto dela e se algo me incomoda... Eu a respeito.
                A música é moça para se colocar em redoma de vidro, ornada com flores, exalando seu próprio perfume misturado ao das flores e ao lado do seu amado marido que tanto a ama: eu. O único pesar, mais meu que dela, seria a morte. Não poderia gozar de sua presença eternamente. A música é um prazer que só terei enquanto for vivo... Ou enquanto não estiver surdo.
                Cada música tornou-se para mim uma droga, uma pílula anestésica e alucinógena: levam-me a loucas viagens de três ou cinco minutos. E, como toda droga, vicia e causa danos a saúde. Um amigo fonoaudiólogo disse que se continuasse desse jeito ficarei com problemas irreversíveis no aparelho auditivo. Mas eu não escuto esses conselhos (quase literalmente). Já estou mergulhado nessa droga e não consigo passar um dia se quer sem minha dose de quinze ou trina músicas.
                Além desses tenho outros “prazeres zinhos”: vatapá, filme, guaraná, pão com requeijão, desenhar na Catedral, abraço nos amigos, quando meu amigo estrala os dedos do meu pé, etc. não vou citar todos, não convém. Mas como disse são “prazeres zinhos”, curtos, rápidos, momentâneos, mas gostosos.
                Meu amado amigo (Hayran) e eu sempre fazemos umas coisinhas incomuns: compramos pão, queijo, presunto e refrigerante e comemos na primeira, ou na mais confortável, calçada que encontrarmos. Hoje fizemos isso. E conversamos bastante sobre o prazer.
                Deixei o parágrafo anterior menos que devia, mas nossa conversa é apenas nossa, basta saber o conteúdo e minhas conclusões. Nós precisamos de um prazer que não finda. Chega dessas coisinhas bobas que se acabam como estrelas cadentes, que se vão com os segundos... Preciso, agora falo especialmente por mim, de um prazer eterno ou que pelo menos, para começar, durem e que eu possa transmiti-lo. De volta ao diário de antes de ontem (Preso): esses “prazeres zinhos” são nossas, minhas, maiores prisões. Isso me impede de sentir um prazer maior e mais útil para mim e para os meus.
                Cada dia que passa é uma carta que escrevo e que rasgo, é um prazer que vivo para morrer. Dias são dias enquanto eu for o que sou mesmo metamorfoseando n’algo que muitas vezes desconhecido. Afinal meus prazeres agora são escrever e mudar.
Diário de férias #3
Luciano Tiago Beserra da Silva
Castanhal, 20 de dezembro de 2011

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Preso


Hoje o dia foi cheio, mesmo eu tendo acordado as 08h, cedo para alguns, muito atrasado para o trabalho no meu caso. Fui ao casamento da Lane... Por que as noivas sempre atrasam? Quinze minutos até que é tolerável, mas uma hora! Enfim. Depois fomos ao almoço: reguei-me de tucupi, entupi-me de churrasco, em resumo fiquei pesado. Ah! O matrimônio! Lindo casamento, Lane e Mário formam um belo casal.
Pelas duas fui para a Catedral, animação missionária. Belíssimo, duzentas pessoas reunidas num único objetivo, coisa rara de se ver hoje em dia. Falo assim como se fosse um velho que viveu sua juventude nos anos cinqüenta. Muitos dos meus amados estavam lá, o que me deixou mais maravilhado ainda. Saí animado, mas um encontro me desanimou: encontrei com um preso.
A pior coisa que pode haver na minha vida é ver alguém sofrer sem saber que está sofrendo. É ver a improdutividade da vida alheia, é como um suicídio lento e doloroso, mas dói mais em quem assiste. Ver quem você ama morrer lentamente é horrível. Ele, um dos meus amados, está preso em si mesmo, fechado à vida, à própria vida.
Por certo tempo é bom estar preso sem saber, assim a liberdade nos é mais saborosa, como dizem os antigos: o mais difícil é mais gostoso. Todavia quando nós assistimos essa agonia silenciosa, a agonia é transferida para nós, aliás, para quem tem um sentimento por alguém, especialmente por que está agonizando. Morte lenta.
Toda essa situação me fez descobrir meu ponto fraco. Fiquei profundamente tocado por uma mensagem que recebi no mesmo dia de um querido e amado amigo de Igarapé Açu, mas fiquei de tal modo que a transcreverei como me foi enviada, com abreviações e tudo mais: “Reza por me, as vzes n consigo entnd por q certos problemas n acontc comigo mesmo e sim cm as psoas q amo, acrtando no meu ponto fraco”. Meu ponto fraco não é meu... é uma dádiva que dói. A dor do outro é a minha dor, a ruína do outro é minha ruína, o desepero do outro é meu desespero.
Final das contas: ainda não acabou ainda não acabei. Nesse mesmo domingo ouvi aquela frasesinha do “Pequeno Príncipe”: “[...] você é responsável pelo que cativa.” Portanto, eu sou responsável pelos que amo, de um jeito ou de outro não posso, e nem consigo, me livrar desta responsabilidade, tornou-se algo natural para mim, sofrer por quem amo, e acho que se não fosse por isso não amaria realmente.
Para muitos isso é loucura. E admito: sou louco, e daí?! Esse é meu jeito, meu estilo. É o que eu acredito. Eu estou preso. Sou prisioneiro do amor. De fato me falta muito para alcançar o que é realmente o amor, pois mesmo prisioneiro dele, ainda restam sinais, e muitos sinais, do ódio que vivi.
Sem mais o que dizer, nada mais digo a não ser até logo.
Diário de férias #2
Luciano Tiago Beserra da Silva
Castanhal, 18 de dezembro de 2011 

sábado, 17 de dezembro de 2011

Volta

Nesse momento estou ouvindo Os Mutantes, disco O A e o Z. Confesso que não estou sentindo nada, talvez se tivesse ouvindo O Jardim Elétrico... Mas confesso também que me movo a escrever meus loucos textos depois de muito, mas muito tempo mesmo. Só que dessa vez eu encontrei motivos, motivos, diria interessantes. Desde meus últimos textos, que eram uma declaração melosa às minhas jóias que não podia colocar na caixinha de preciosidades, cresci admiravelmente. Mesmo os que me conhecem não perceberam minha mudança, pois eu mudei para mim mesmo, para o meu proveito... Egoísta, eu? Jamais. Há coisas aparentemente más que são necessárias e fazem bem. Mas chega de explicações que não serão entendidas, logo desnecessárias. Volta ao foco. Todos os dias eu volto. Eterno retorno. Mas há uma volta em especial: a volta para casa depois da faculdade na última hora do dia. Depois de um dia inteiro de trabalhos, esforços e viagens, eu volto para casa. Diferente do comum, só para variar, pego o caminho mais longo. Quando me perguntam o porquê digo que é por causa do perigo que é vir sozinho por aquela rua, mas a verdade é que vindo pelo caminho mais longo tenho mais esperanças... Mais ânimo. Nós vivemos sempre buscando, buscando coisas novas, pessoas novas, buscando acolhimento, um abraço apertado, um beijo na bochecha, um forte aperto de mãos, um “que saudades de você”... Algo que nos faça se sentir bem. Eu não fico atrás... Depois de um dia inteiro de trabalhos, esforços e viagens... Que alguém que me diga boa noite não por educação, mas por querer mesmo que eu tenha uma boa noite. Às vezes nossas atitudes são disfarçadas. O hábito destrói os sentimentos e o pouco que há de razão neles. Todo mundo diz “Bom Dia”, mas fariam tudo para dar-lhe realmente um bom dia? Muitos perguntam “está tudo bem?”, será que estão realmente interessados e dispostos a ouvir? Pior ainda: a resposta. Bom dia está tudo bem... Verdade ou mentira? Nenhum dos dois, apenas educação. Estou voltando para casa e no caminho me pergunto: será que estão me esperando na sorveteria? Ou na esquina de casa? Será que alguém foi me visitar enquanto não estava? Deixaram mensagem? Sem respostas me calo e vejo aquelas mesmas imagens: as mesmas velhinhas na Catedral, os mesmos “malacos” no bar perto da assembléia, o cara assistindo TV na lanchonete porque já não têm mais nenhum cliente, os mesmos bêbados no bar... Ônibus,quando ainda tem, moto taxi, bicicletas: cenas comuns a toda noite. Então a noite termina e, é claro, quem espera sempre alcança: o vô e a vó me esperam na sala. Eles não são os melhores vigilantes, um dos dois sempre está dormindo, mas as luzes ainda estão acesas e a TV ligada, sinal da espera por mim. Com isso aprendi que espero ou esperamos demais de quem não nos dará mais que o que querem dar, e às vezes sentimos que é pouco demais. E não esperamos nada de quem nos dá mais que o necessário. Espero das pessoas erradas. Espero demais. Quem espera nem vai nem volta só espera. E eu estou de volta. Voltei com novas esperanças, mas com as mesmas certezas. Voltei não para trás, pois o tempo não volta, e agradeço por isso. Voltar não é regredir, é começar, recomeçar, começar de novo, dar o primeiro passo depois de uma longa caminhada. Voltar é ir para um futuro diferente num espaço comum, simples, monótono, preto e branco. Afinal vivemos num eterno retorno.

Diário de férias #1 Luciano Tiago Beserra da Silva
Foto: minha mesmo; luzes da penitenciaria de Americano.

sábado, 13 de agosto de 2011

100 x + ou cem vezes mais

Pois é, pessoas! Esse é meu blog. Fiz a mim mesmo uma promessa: quando tivesse meu computador com internet em casa, iria criar um blog e fazer postagens, mesmo que semanais. Promessa é dívida. Eis o "100 x +"! O porquê de "100 x +" (ou "cem vezes mais") já digo: Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus capítulo 19 versículo 29: "E todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos, por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá como herança a vida eterna." Logo, largo tudo para a vida eterna, mas sei que para isso terei de fazer muitas coisas e sofrer muito (se ter uma irmã já é difícil, imagina cem vezes mais...).
Tudo o que é dado do alto, é graça. Toda graça é divina, tudo o que é divino nos edifica, portanto somos edificados pelo próprio Criador. "100 x +" para vocês.