Desfalquei
um dia do diário, mas a segunda feira é sempre muito comum, não há muito que
dizer. Mesmo eu tendo ido a Escola da Palavra pela noite e ter ficado maravilhado
com as coisas que ouvi e que vi.
Nesta
terça, meu descontentamento foi compensado pela música. Nos últimos anos não
encontrei melhor companhia para qualquer hora, senão a do meu Senhor. Se a
música tomasse forma física, humana e feminina eu casaria com ela. Sei bem que seria
difícil casar com uma dama com tantos pretendentes, mas eu a amo e tenho muito
respeito. Seja ela como for eu gosto dela e se algo me incomoda... Eu a respeito.
A
música é moça para se colocar em redoma de vidro, ornada com flores, exalando
seu próprio perfume misturado ao das flores e ao lado do seu amado marido que
tanto a ama: eu. O único pesar, mais meu que dela, seria a morte. Não poderia
gozar de sua presença eternamente. A música é um prazer que só terei enquanto
for vivo... Ou enquanto não estiver surdo.
Cada
música tornou-se para mim uma droga, uma pílula anestésica e alucinógena: levam-me
a loucas viagens de três ou cinco minutos. E, como toda droga, vicia e causa
danos a saúde. Um amigo fonoaudiólogo disse que se continuasse desse jeito ficarei
com problemas irreversíveis no aparelho auditivo. Mas eu não escuto esses
conselhos (quase literalmente). Já estou mergulhado nessa droga e não consigo
passar um dia se quer sem minha dose de quinze ou trina músicas.
Além
desses tenho outros “prazeres zinhos”: vatapá, filme, guaraná, pão com requeijão,
desenhar na Catedral, abraço nos amigos, quando meu amigo estrala os dedos do
meu pé, etc. não vou citar todos, não convém. Mas como disse são “prazeres
zinhos”, curtos, rápidos, momentâneos, mas gostosos.
Meu
amado amigo (Hayran) e eu sempre fazemos umas coisinhas incomuns: compramos
pão, queijo, presunto e refrigerante e comemos na primeira, ou na mais confortável,
calçada que encontrarmos. Hoje fizemos isso. E conversamos bastante sobre o
prazer.
Deixei
o parágrafo anterior menos que devia, mas nossa conversa é apenas nossa, basta
saber o conteúdo e minhas conclusões. Nós precisamos de um prazer que não
finda. Chega dessas coisinhas bobas que se acabam como estrelas cadentes, que
se vão com os segundos... Preciso, agora falo especialmente por mim, de um
prazer eterno ou que pelo menos, para começar, durem e que eu possa
transmiti-lo. De volta ao diário de antes de ontem (Preso): esses “prazeres
zinhos” são nossas, minhas, maiores prisões. Isso me impede de sentir um prazer
maior e mais útil para mim e para os meus.
Cada
dia que passa é uma carta que escrevo e que rasgo, é um prazer que vivo para
morrer. Dias são dias enquanto eu for o que sou mesmo metamorfoseando n’algo que
muitas vezes desconhecido. Afinal meus prazeres agora são escrever e mudar.
Diário de férias #3
Luciano Tiago Beserra
da Silva
Castanhal, 20 de
dezembro de 2011
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